Mais 8% em cinco anos. Portugal ultrapassa média europeia em consumo de antibióticos
O consumo de antibióticos em território português teve um crescimento de oito por cento de 2019 a 2024. É quatro vezes mais do que a média da União Europeia.
O Infarmed cita esta terça-feira dados da rede de vigilância europeia de consumos de antimicrobianos, da responsabilidade do ECDC - Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, segundo os quais, entre 2023 e o ano passado, a dispensa de antibióticos em farmácias comunitárias subiu de uma média de 18 doses diárias por habitante (DHD) para 19.
"Isto significa que, em média, 19 doses diárias são consumidas por cada mil habitantes em cada dia", sublinha em comunicado a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde.Dados preliminares relativos ao primeiro semestre de 2025 apontam para uma descida ligeira, para 18,8 DHD.
Números da Associação Nacional de Farmácias, obtidos pela agência Lusa, indicam que até outubro deste ano a taxa de dispensa de antibióticos em Portugal estabilizou relativamente a 2024, mantendo-se num ritmo de aumento de nove por cento por ano.
Em 2022, foram dispensadas 7.963.253 embalagens de antibióticos. Número que ascendeu a 8.681.278 em 2023 (crescimento de nove por cento) e 9.441.028 em 2024 (8,8 por cento). Até outubro de 2025, foram dispensadas 7.175.487 embalagens.
"O período de maior procura e dispensa de antibióticos ocorre nos meses de inverno, especialmente entre dezembro e março, coincidindo com o aumento das infeções respiratórias e outras patologias associadas aos meses mais frios", observa a Associação Nacional de Farmácias.
Consumo hospitalar
O Infarmed refere que o consumo de antibióticos em meio hospitalar correspondeu a 1,7 DHD em 2023, crescendo para 1,8 DHD em 2024. Percentagem que voltou a verificar-se no primeiro semestre deste ano.
Tais números "evidenciam", de acordo com o Infarmed, "a urgência de uma ação coordenada entre todos os intervenientes para assegurar o uso responsável dos antimicrobianos".A Autoridade do Medicamento considera "imperativo promover iniciativas conjuntas e campanhas de sensibilização" para cidadãos e profissionais de saúde, acentuando "a importância da prevenção e do uso criterioso dos antibióticos".
O Infarmed estima que Portugal atinja em 2030 uma diminuição do consumo total de antibióticos de nove por cento face a 2019 - a Recomendação do Conselho Europeu de 13 de junho de 2023 estalece o objetivo de uma redução em 20 por cento do consumo total em humanos até ao mesmo ano.Em Portugal, o consumo de quinolonas revelou-se estável de 2022 a 2024, em 1,3 DHD, subindo ligeiramente no primeiro semestre de 2025, para 1,4 DHD. Em ambiente hospitalar, o consumo de carbapenemes estabilizou de 2023 e 2024 em 0,10 DHD, mantendo-se assim no primeiro semestre de 2025.
Assinala-se esta terça-feira o Dia Europeu da Consciencialização sobre os Antibióticos, data assinalada em Portugal com uma campanha digital de sensibilização da população a cargo do Infarmed, da Direção-Geral da Saúde e do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.
Resistência mata mais de 35 mil por ano
Mais de 35 mil pessoas morrem anualmente, calcula o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, em resultado de infeções resistentes a antibióticos.A resistência antimicrobiana, adverte o ECDC, está a agudizar-se na Europa.
"Estima-se que as infeções resistentes aos antimicrobianos causem mais de 35 mil mortes por ano na UE/EEE, representando um encargo substancial para os indivíduos, as sociedades e os sistemas de saúde", refere o ECDC em comunicado.
A Europa, vinca o Centro, "não está no caminho" para atingir quatro das cinco metas a preencher até 2030.
Desde 2019, a incidência de infeções da corrente sanguínea causadas pela bactéria Klebsiella pneumoniae resistente aos antibióticos carbapenemes aumentou em mais de 60 por cento, pese embora a meta de redução de cinco por cento até 2030. Já as infeções causadas pela Escherichia coli resistente às cefalosporinas de terceira geração aumentaram em mais de cinco por cento, contra o objetivo de uma redução de dez por cento.
Ao mesmo tempo, o consumo de antibióticos aumentou em 2024, quando se pretendia uma redução de 20 por cento.
"O aumento da resistência antimicrobiana, juntamente com a escassez de novos tratamentos eficazes, constitui uma grave crise de saúde pública em evolução na Europa e no mundo".
c/ Lusa